Como o Brexit impacta na economia dos países europeus

Como o Brexit impacta na economia dos países europeus

30.10.2019

O que acontece com a Europa depois do Brexit

Há três anos, a economia europeia segue em compasso de espera. Desde o referendo realizado em junho de 2016, o Reino Unido se prepara para deixar a União Europeia, bloco do qual faz parte desde 1973. O Brexit, como ficou conhecido o processo, caminha para os momentos finais. E as indecisões, como a não aprovação do acordo com a União Europeia por parte do parlamento britânico, têm adiado uma solução e gerado incertezas nos demais membros. Mas como o Brexit impacta na economia da União Europeia? A resposta a esta questão vai depender de como a ruptura será feita: com acordo ou sem. 

O mais certo é um chacoalhão no Produto Interno Bruto (PIB) dos países, risco de outros membros optarem pelo mesmo caminho e fuga de mão de obra especializada. Matéria-prima, produtos e serviços também tendem a ficar mais caros para ambos os lados.

Segunda maior economia do continente, atrás apenas da Alemanha, o Reino Unido nunca esteve totalmente de cabeça no bloco. Quando foi assinado o tratado embrião do que culminou hoje na União Europeia, o tratado de Roma, em 1957, os ingleses não fizeram parte. Isso ocorreria apenas em pactos assinados duas décadas mais tarde. Outro exemplo é o fato de o Reino Unido não abrir mão da própria moeda, a tradicional libra esterlina, para aderir ao euro, como fizeram os demais países em 1º de janeiro de 2002. Como vantagem, a libra sempre esteve mais valorizada do que o euro e o dólar americano. 

Além disso, como parte do bloco, todas as relações bilaterais comerciais com outros países do mundo precisam ser feitas em conjunto com os demais membros, e não isoladamente. Esse desejo de autonomia diplomática e comercial, aliado ao sentimento de protecionismo e conservadorismo que tem tomado as principais nações europeias nos últimos cinco anos, culminaram no movimento que pedia pelo referendo de 2016. Hoje, pesquisas já indicam que muita gente votou a favor da saída da União Europeia sem ao menos refletir a respeito das consequências. E pode ter se arrependido dessa decisão.

Impactos negativos para ambos os lados

O rompimento com o bloco tende a ser um jogo de perde-perde para quem sai e para quem fica. Para o Reino Unido, consultorias, como a do Bank of England, afirmam que a saída pode representar redução de até 25% no valor da libra, além de queda de 8% no PIB britânico nos próximos 10 anos. 

Essas condições se agravam se a saída ocorrer sem acordo com a União Europeia, que na prática se daria de uma forma mais brusca e acarretaria na corrida contra o tempo para firmar novos tratados bilaterais com nações de outros continentes.

O Fundo Monetário Internacional prevê um revés econômico para todos, em estudo divulgado em agosto de 2018. Com a nova condição, haverá aumento das barreiras ao comércio, ao fluxo de dinheiro e investimentos e a própria mobilidade de trabalhadores entre os países, com consequências negativas para a produção e o emprego. Essa ruptura gerará custos para ambos os lados.

Atualmente, o Reino Unido é um dos principais parceiros comerciais das nações que integram a União Europeia e é responsável por 13% do comércio de bens e serviços do bloco. Os laços também se estendem às cadeias produtivas entre os países, com a facilidade de compra e venda de matérias-primas, por exemplo.

Queda de 1,5% de PIB e redução do emprego

Conforme o estudo do FMI, mesmo que o Reino Unido e a União Europeia optem por um acordo de livre comércio – com tarifas baixas sobre a transação de bens, mas barreiras não tarifárias mais elevadas do que se tem hoje – o PIB da União Europeia recuará 0,8% e o nível de emprego em 0,3% no longo prazo.

Mas se ambas as partes optarem por adotar as regras da Organização Mundial do Comércio, os impactos serão mais acentuados. Nesse caso, o FMI prevê queda de 1,5% no PIB do bloco, e redução da taxa de emprego em 0,7% no longo prazo.

Um caminho intermediário, com quase nada de impacto é sugerido. Seria adotar uma solução firmada atualmente com a Noruega. O país nórdico também dispõe de moeda própria, a coroa norueguesa, assinou o tratado do espaço Schengen – que permite a livre circulação de pessoas – e pertence ao Espaço Econômico Europeu, com mercado único, mas sem união aduaneira.  

Efeitos nocivos para quem está mais próximo

Mas os efeitos não são uniformes em todos os países. Sofrerão mais os que mantêm uma relação mais próxima com o Reino Unido. Pela projeção do FMI, a Irlanda deve ser o país com mais impactos imediatos no PIB. Num cenário em que seja adotado um acordo de livre comércio entre União Europeia e os britânicos, a Irlanda teria, ainda assim, 2,5% de queda do PIB, seguida por Holanda, Dinamarca, Bélgica e República Tcheca. 

Já no cenário de se adotar apenas as regras da Organização Mundial do Comércio, a queda do PIB na Irlanda chegaria a 4%, causada pelo aumento das barreiras tarifárias e não tarifárias que surgirem a partir da nova condição.

Hora inadequada para uma ruptura

Fato é que o Brexit chega num momento inoportuno para a saúde financeira dos países. A situação de acirra quando a economia global enfrenta uma desaceleração generalizada. A guerra comercial entre Estados e China, principais parceiros da União Europeia, e redução dos juros americanos já são fatores de preocupação no mercado global. A ruptura na Europa só vem agravar esse quadro.

Maior potência europeia e quarto maior PIB mundial, a Alemanha encara em 2019 dois trimestres consecutivos de redução do PIB e da atividade industrial. A maior fiadora do bloco já sente os efeitos indiretos da indefinição sobre o Brexit. E o pedido de prorrogação para janeiro, feito pelo governo britânico em 19 de outubro, do prazo para aprovar um acordo no parlamento apenas prolonga as incertezas sobre o futuro do bloco.

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