Herança árabe na Andaluzia
18.03.2022A região da Andaluzia é definitivamente a primeira imagem que a maioria das pessoas tem em mente quando pensa na Espanha. Flamenco, campos de oliveiras, verão escaldante e construções históricas decoradas com belos jardins ao som do dedilhar da guitarra flamenca. Um cenário e tanto para uma inesquecível viagem.
O legado árabe
Além de todas as características mencionadas anteriormente, a Andaluzia é particularmente conhecida por preservar em sua paisagem e cultura diversos elementos provenientes dos árabes.
Tal influência se deve graças à presença deste grupo étnico que chegou à Península Ibérica de diferentes partes do Oriente Médio e Norte da África, se estabelecendo na região pela via militar. Assim, o início desta movimentação é datado de 711 d.C. e se insere dentro do período de expansão do Califado Omíada, o segundo dos quatro califados islâmicos ao longo da história.
Apesar deste antecedente de ocupação, o território de Al-Andalus apresentou um surpreendente diálogo inter-religioso entre mulçumanos, cristãos e judeus. Consequentemente, o resultado deste entrosamento é visível na Espanha contemporânea, seja em seus monumentos ou nas variadas manifestações culturais.
Vale ressaltar, contudo, que o domínio árabe durante a época do Al-Andalus não se limitava apenas à região da Andaluzia. De fato, ele se estendeu para outros cantos do país como a atual capital, Madri, cujo nome, aliás, deriva de uma mistura entre a língua árabe e latina.
Os árabes mantiveram controle de Al-Andalus até o ano de 1492, quando forças militares sob a liderança dos monarcas católicos, Isabel de Castela e Fernando de Aragão, recuperaram o território por completo ao vencerem a Guerra de Granada, última cidade até então mantida pelos árabes mulçumanos.
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A rota andaluza
Mesmo com o fim de Al-Andalus, a Espanha, e especificamente a Andaluzia, conseguiram preservar as marcas deste importante período histórico. Mais do que vestígios do passado, a presença árabe na Espanha pode ser conferida pelos seus próprios olhos no momento presente.
Pensando nisso, no post de hoje selecionamos para você 6 lugares da herança árabe na Andaluzia que são de tirar o fôlego e com certeza irão te deixar com vontade de incluí-los no seu próximo roteiro para terras espanholas. Vamos lá?
Herança árabe em Córdoba
Em Córdoba, é possível encontrar algumas das mais fascinantes marcas da presença árabe na Espanha. A cidade parece um museu a céu aberto e, não à toa, é até os dias atuais a única cidade no mundo a ser agraciada com quatro lugares reconhecidos como Patrimônio Mundial pela UNESCO.

Mesquita-Catedral
Primeiramente, um dos mais conhecidos representantes da herança árabe na cidade é, sem dúvidas, a Grande Mesquita de Córdoba. As obras para sua construção começaram em 786 d.C., porém a estrutura foi sendo continuamente ampliada ao longo dos anos. Atualmente, o local possui mais de 23 mil metros quadrados, posicionando-a, portanto, entre as maiores mesquitas do mundo. Sua entrada pela porta norte é também comumente chamada de Porta do Perdão, levando os visitantes ao seu interior que é de cair o queixo.
Dentro do recinto, um salão com 850 arcos e colunas feitos em granito, jaspe e mármore saúdam os que lá entram. Curiosamente, apesar de ainda ser intitulada como “mesquita”, há séculos ela não segue seu propósito original. É porque com a reconquista pelos cristãos, o local foi reformulado e hoje funciona como uma igreja católica conhecida como Catedral de la Asunción de Nuestra Señora.
Torre árabe e ponte romana
Além disso, outra parada deslumbrante é a Torre de Calahorra, uma fortificação de origem islâmica que abriga a sede do Museu Vivo de Al-Andalus desde 1987. A construção foi desenvolvida ao lado do rio Guadalquivir entre os séculos XII e XIII com o objetivo de servir como proteção e passagem para a Ponte Romana de Córdoba.
Esta instalação faz parte do centro histórico da cidade, o qual foi um dos locais declarados como Patrimônio Mundial.

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Herança árabe em Sevilha
A capital da Andaluzia também guarda tesouros incomensuráveis da arquitetura islâmica.
A torre que brilha como ouro
Entre eles, destaca-se a Torre del Oro. Esta construção foi erguida entre os anos 1220 e 1221 com o objetivo de servir como uma estrutura de defesa contra possíveis invasões. Localizada às margens do rio Guadalquivir, o mesmo que corta a cidade de Córdoba, a Torre del Oro possui 36 metros de altura e sua base se distribui por uma superfície dodecagonal (forma geométrica de um polígono com 12 lados).

No século XIV, já sob controle católico, adicionou-se uma cúpula, também em formato dodecagonal à construção principal. De acordo com estudiosos, o nome “Torre del Oro” se deve provavelmente pelos reflexos dourados causados pelos azulejos que revestiam a torre originalmente.
Morada dos monarcas
Outro lugar igualmente fascinante em Sevilha são os Reales Alcázares de Sevilla. A palavra “alcázar” refere-se a uma espécie de palácio fortificado, cuja raiz árabe “al qasr” significa “fortaleza”.
Na realidade, os Reales Alcázares de Sevilla são um grande complexo onde é possível notar com mais visibilidade as interações dos diferentes povos no território espanhol. Isto porque, além da arquitetura tipicamente islâmica e mudéjar com seus belos jardins, o local também conta com alguns espaços decorados no estilo renascentista e barroco. Assim, é possível ver a evolução histórica da Península Ibérica diante de seus olhos.

Além disso, este é considerado o palácio real mais antigo que ainda está em uso na Europa. Residência da família real espanhola em suas visitas a Sevilha, o local também está aberto à visitação pública. Para informações sobre dias e horários disponíveis bem como os preços dos ingressos, consulte o site oficial do monumento.
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Herança árabe em Granada
Por último, mas definitivamente não menos importante, vamos ver um pouco mais da influência árabe em Granada. Esta cidade detém o posto de ter sido o último bastião árabe mulçumano antes da reconquista da Espanha pelas tropas castelhanas cristãs.
Templo do conhecimento
Justamente por isso, a cidade é um reduto precioso de magníficos exemplos oriundos da época Al-Andalus. Dentre tantos, um muito interessante é a Madraza de Granada. As madraças existem até os dias atuais e, em poucas palavras, são escolas dedicadas principalmente ao estudo islâmico.
Durante o período de Al-Andalus, no entanto, a Madraza de Granada se caracterizava por uma universidade de estudos variados, sendo também a primeira da cidade. Fundada em 1349, os estudantes tinham a possibilidade de entrar em contato com uma série de disciplinas que iam desde direito e medicina, até matemática e noções de astronomia. A universidade continuou ativa até meados de 1499 e 1500. Repetidas reformas no local foram também incluindo outros elementos de estilos diferentes, entre eles, o barroco.

Atualmente, a Madraza pertence à Universidade de Granada, onde ainda se realizam eventos culturais. Além disso, lá também se encontra a Real Academia de Bellas Artes Nuestra Señora de las Angustias.
Uma última curiosidade interessante da Madraza é a inscrição em árabe no local, onde se lê: “Se em teu espírito se faz presente o desejo de estudar e fugir das sombras da ignorância, encontrarás nela [Madraza] a bela árvore da honra”
A fortaleza vermelha
E fechando com chave de ouro, não poderíamos deixar de citar o mais provável representante da influência árabe na Espanha: Alhambra. O seu nome deriva do árabe, sendo seu significado mais aproximado “castelo vermelho”, uma referência à coloração da argamassa utilizada na construção de seus muros.
Alhambra é um grande complexo que compreende uma fortaleza com jardins e palácios. Sua construção data aproximadamente de 666 d.C. e foi erguida sobre a colina de Sabika com fins de defesa estratégica. Ainda que ao longo dos anos foram sendo incluídas outras estruturas, como o palácio de Carlos V, Alhambra é um dos monumentos que mais conseguiu manter o autêntico estilo árabe andaluz.

Passear pelas suas dependências é um convite para voltar ao pomposo passado de Al-Andalus. Durante a visita, é possível notar a típica arquitetura árabe entremeada de jardins cuidadosamente desenhados juntamente a fontes e espelhos de água. Aliás, os recursos hídricos de Alhambra são um espetáculo à parte, já que seus construtores foram capazes de fazer um canal de ligação, trazendo água da serra e abastecendo todo complexo. Até hoje, é considerado uma maravilha da engenharia.
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Gostaram de conhecer um pouco mais sobre a Andaluzia e sua herança árabe? Neste post mostramos apenas alguns pontos turísticos, mas não arranhamos nem a superfície. Afinal, existem inúmeros monumentos incríveis originários da era Al-Andalus.
Com certeza adoraríamos falar em mais detalhes sobre as principais cidades andaluzas e suas relíquias culturais! O que acham?
De qualquer modo, esperamos que este post tenha te deixado com um gostinho de quero mais e te anime a passar por um destes locais em sua próxima viagem!